segunda-feira, maio 31, 2010

Buenos Aires

Acho que tenho exercitado muito mais o meu lado mulherão que o mulherzinha. Parece que estou levantando a bandeira do feminismo (ainda que na era do 3D) e querendo provar para todos que sou muito mais forte do que um exército de homens armados. Sou mesmo, mas daí a ter apenas esse lado em mim já seria estar mentindo. Falo de mim como representante de um grupo. As mulheres parecem estar querendo provar sua "masculinidade" a todo custo. E engraçado, porque os homens não estão tentando provar sua feminilidade (os que são femininos a pontos extremos, viram gays e pronto, se assumem). Mas nós, mulheres, nos fazemos de duronas, de fortes; carregamos o peso todo sozinhas, pagamos nossas contas, iniciamos o flerte, damos as cantadas e, se bobear, ainda pagamos o motel. Agora, cá entre nós, falar frases como "Podemos pular essa parte?" quando convidada para jantar, ou "Acho que estamos precisando exercitar" quando ele já não a procura há muito tempo etc é sinal de ser "macha" demais? Essas frases são de boca feminina, mas aquelas não ditas também. E talvez tenha faltado a "feminilidade" nele para ler as principais.
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domingo, maio 30, 2010

Buenos Aires

Passamos a vida colecionando. Colecionamos livros, latas, bottons, fotos, amores, dores, sabores. Tudo pode virar coleção, sendo física ou emocional. E o mais frequente são as coleções nas quais coexistem o físico com o emocional. Diga-se, de passagem, os álbuns de figurinhas, os cartões de aniversários passados, os CDs já não mais escutados, os livros de infância. Colecionar é deixar porções da vida ao alcance dos nossos olhos. Olhar para pequenos objetos e lembrar de grandes emoções. Olhar algumas palavras e lembrar de discursos. Por isso há algum tempo tenho colecionado escritos. A coleção que começou com poesias apaixonadas, foi ganhando poesias revoltadas, amarguradas. Hoje a coleção é grande e não pára de crescer, ainda que muitas das palavras fiquem guardadas em outras prateleiras, as internas.

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quinta-feira, maio 27, 2010

48horas

Em quarentaeoitohoras muita coisa acontece. Às vezes acontece menos, às vezes acontece mais. Engraçado o mesmo número de horas gerar produtividade diferente. Nas últimas quarentaeoitohoras escutei algumas frases erradas (minha cabeça gerou o viés para o que eu queria ouvir), vi paisagens muito diferentes (dentro do táxi branco, as paisagens enquadradas em formato retangular ficavam lindas ), conheci pessoas (sempre cruzamos com várias, mas percebi que dessa vez conheci mais porque foquei o olhar nas suas pupilas), me destravei (pois é, não tem como evitar certas "paradas" na vida, paradas entre estar ofegante e estar outra vez com o pulmão cheio de ar).

Escutei "boa peça!" quando estava sentada prestes a embarcar. Escutei errado. Eu queria mesmo estar dentro de um teatro, ou concluí que a aeronave é um grande palco teatral. Escutei "feliz dia dos namorados!" e era isso mesmo que ele disse no final do vôo. Mas faltando mais de 15 dias para a data festiva, não consegui entender a parabenização. Estranho todas as sensações e pensamentos que temos em apenas quarentaeoitohoras. Pensar nessa quantidade de elétrons saltitantes, de moléculas que se esbarram, de energias que circulam, me gera uma certa ansiedade (sensação essa uma das mais visitadas por mim). Aliás, o que não gera ansiedade nessa vida atribulada, não é mesmo? Ah, sei de uma coisa: rir! Rir desobstrui qualquer canal, quebra qualquer gelo, aproxima quaisquer duas pessoas.

Nessas quarentaeoitohoras ganhei uns 10 sorrisos pelo menos depois de dar eu o primeiro. Por que a mesquinharia na distribuição de sorrisos? Quando "estou" eu mesma saio espalhando um monte por aí... "Estar eu mesma". Isso mesmo, ainda que sempre "seja" eu mesma, parece que às vezes a alma sai pra dar uma volta e deixa o corpo oco; de repente, como num golpe de susto, volta correndo para habitar a carcaça. E quando corpo e alma se encontram, os dentes aparecem, os olhos diminuem, a covinha fica querendo aparecer, a íris brilha.

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terça-feira, maio 25, 2010

weheartit.com

auto-riso


hahahahaha
só rindo mesmo de você, vida.
você me prega cada peça, sua sapeca!
coloca a casca de banana só pra rir me vendo cair.
me chama e quando olho diz que era brincadeira.

me fala umas coisas sem eira nem beira
e eu, ingênua ainda com essa idade,
me entrego de corpo e alma, de verdade;
aí quando vejo já estou lá estatelada,
com cara de boba e toda enrolada.

ai vida, você me faz de palhaça,
coloca o nariz vermelho em mim e não disfarça
que se poe a me testar todo o tempo
nem aí se o que eu busco é alento.

vida, amada vida,
(mesmo agora um pouco ferida)
você me faz rir,
e isso facilita pra que
eu não queira beber até cair,
prefiro me juntar a divertir.

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segunda-feira, maio 24, 2010

timidez momentânea

a música
o bolo
o jornal
o sono

preenchem
o silêncio

mientras palavras acanhadas
mentem que não querem verbalizar

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sexta-feira, maio 21, 2010

Amarguei.
Comi todos os doces pela frente
E ainda assim senti o gostinho ruim na boca
Aquele finalzinho amargo que fica, sabe?

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quinta-feira, maio 20, 2010

Cesky Krumlov

novelo

os pedaços vão se desenrolando como novelo que se desdobra em vão
ao cair buscando seguir aquele que longe já está
o fio se desenrola e vai em frente, segue torto querendo ser reto
desenrola, desenrola, se enrola de tanto ir e não ter retorno

o novelo desfeito é como novela inacabada de roteiro não terminado
linha inteira no chão pisada das pegadas deles todos que passaram
por cima sem nem mesmo olhar que por ali passara um antigo novelo
antes inteiro, formoso, cheio

de amor.

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segunda-feira, maio 17, 2010

praga

pensar no passado é como praga;
quando você se dá conta
já está alastrado.

pra evitar o transtorno
melhor se vacinar;
assim, quando o bichinho picar
em um minuto vai embora
e tudo fica como antes no agora.
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domingo, maio 16, 2010

Berlim

marcas

são marcas d'água que vão fazendo em nós
as experiências vividas em vida.
marcam órgãos, internos e externos;

são marcas leves ou profundas
que surgem e ficam,
estabelecem-se como parte do ser
passam a existir em presença constante.

marcas são cicatrizes de momentos,
em formato de rugas, manchas, defesas;
que existem nos que deram a cara à tapa
nos corajosos que foram.
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sábado, maio 15, 2010


a luz de cima não apaga nunca
mas às vezes a gente precisa de luz extra pra continuar.

aí pode ter apelação mesmo:

luz
do sol
de luminária
branca
de blondor

o importante é se iluminar.
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sexta-feira, maio 14, 2010

Marrakesh

saco

cada um sabe o tamanho do saco que carrega.
cada um sabe o peso do saco que carrega.
cada um sabe o cheiro do saco que carrega.
cada um sabe o conteúdo do saco que carrega.

cada um carrega o saco que pode carregar.
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terça-feira, maio 11, 2010

Berlim
ih, falei!

preferia que me levassem para uma aula de anatomia
do que eu ficar aqui me analisando todo dia
podiam abrir minha cabeça e tirar, pedacinho por pedacinho
fazer o estudo das partes e depois juntar tudinho.

se existisse anatomia em corpo vivo, emprestaria o meu,
quem sabe indo e vindo já estudado,
o bichinho estaria curado
das corridas atrás do próprio rabo
procurando não aceitar que se fudeu.
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domingo, maio 09, 2010

Riviera Francesa

amanheceu o dia chuvoso, o barulho das gotas na caixa do ar condicionado denunciavam que seria dia de cobertor. é dia da procriação hoje. todo ano tem. e hoje, com essa chuvinha ao pé do ouvido, com a cama tamanho queen e o café quentinho, seria perfeito para iniciar a prole. é dia de ficar com cara de sono, dia de não colocar maquiagem, dia de ler o jornal completo, dia de não ter hora pra comer. é domingo. domingo e dia das mães. é domingo, dia das mães e chove. combinação perfeita para querer ver filme, ficar embaixo do cobertor e procriar.

além do cheiro de terra molhada, senti um cheirinho de neném hoje pela casa. minhas mãos naturalmente escorregaram pela cintura e chegaram abaixo do umbigo procurando alguma protuberância diferente por ali. nada havia além da melancia e pão francês do café de mais cedo. as mãos se voltaram para o rosto, os joelhos se encolheram, me aconcheguei de lado... me imaginei daqui a alguns anos. foi o primeiro dia das mães que queria ter recebido telefonemas ao invés de dar.
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terça-feira, maio 04, 2010


Desculpa por te haver amado tanto
Desculpa por ter tanto em mim ainda para te dar
E com isso ter te sufocado um pouco

É certo que o que ficou aqui em mim
É muito mais que tudo isso
É tanto que não há desculpa a alcançar

Desculpa por ter esquecido de mim
E ter colocado a ti em pedestal tão alto
Desculpa por ter piorado seu narcisismo
E ter ajudado crer-te mais que mim

É certo que o que ficou aqui em mim
É muito mais que tudo isso
É tanto que preferi agora me amar
E deixar-te a ti para que te ames
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domingo, maio 02, 2010

.......................Perugia - Italia....................................

Paixão indigesta


Do amor eu levo pétalas


Da flor de laranjeira desajeitada


Do sabor eu lembro, trevas


Da saliva aqui amedrontada



Das bandeiras levantadas, interrogação


Das laranjeiras habitada, sem ação


Dos dizeres passados, memória


Das promessas futuras, quiçá história



De possibilidades não se vive


Do presente não se quer deslize


De cinco meses de combate interno


De paixão mais ardida que inferno



De


De


Desencontro brutal


Desce mal


Indigestão total


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sábado, maio 01, 2010

Odeio quando ele finge que não me vê.

Odeio quando ele finge que está se vendo.

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Odeio quando ele finge que não me vê.

Odeio quando ele finge que está se vendo.

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