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tem muitas vogais aqui dentro (algumas consoantes também); os "ás" batem o récord. aaaaaaaaaaaaaaaaaa. de vez em quando vêm uns "ís" gritando desenfreadamente. iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. e quando os olhos se deparam com aquelas situações inesperadas, aqueles que você acha que só vai ver em filme, vem um ruido da profundidade. uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. tem milhares de vogais aqui dentro. no meu alfabeto interior as vogais ganham em muito dos outros tipos de letras. ficam se debatendo, estão num ringue fechado. a platéia veio sim, está sentada de forma bem comportada no seu lugar, nas velhas e boas cadeiras brancas. e de lá ouço, óóóóóóóóóóó - foi o som quando me viu de calcinha. daqui gritei "vem, vem, entra no ringue, aumenta a força do time!". enquanto o aqui dentro fazia aaaeeeiiiooooouuuuuoooooiiiiiieeeeeooooo de excitação pela partida que estava a começar, só um ruído veio de lá: o som do silêncio. o estranho é que ainda que o meu alfabeto tenha mais vogais que de costume, essa não constava.

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eu sei que você sabe que eu sei que você sabe
que a nossa cadência está aproximando seus ponteiros

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tem vezes que a gente fala bom dia querendo dizer boa tarde, que a gente pede um querendo pedir dois, que a gente ri querendo chorar. tem dias que a gente fica em silêncio querendo gritar, que a gente acorda querendo dormir, que a gente dorme querendo ficar um pouco mais acordado. tem horas que nenhum salgado substitui a vontade pelo doce, que as palavras não servem ao carinho que se quer. tem momentos que batemos querendo beijar, que escrevemos querendo dizer, que dizemos preferindo nos calar. tem tanta duplicidade nessa vida. tem tanta vontade não vivida, reprimida. tem tanto, tanto, tanto, que mesmo as dualidades cabem aqui dentro.

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o tempo é o de cada um, apenas.
não existe o tempo universal
aquele tempo padrão, o do relógio;

o tempo é o interno, individual
cada pessoa sabe em que
cadência funciona seu relógio

agora,
adoro quando os tempos nossos
viram o nosso tempo

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se eu soubesse o dia de amanhã
hoje seria amanhã
e se hoje fosse amanhã
estaríamos juntos

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insegurança é um bichinho safado,
que se alimenta do sentimento alheio
que vai crescendo, se multiplicando
tomando todos os espaços;
vira praga.

com licença, o senhor me indica algum bactericida?

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tatuagem é uma marca no corpo
tatuagem é marcar o corpo de alma

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assim, esperar é uma das coisas que menos gosto na vida. mas como a vida faz o que deve ser feito e não exatamente o que peço (estou melhorando meu poder de persuasão!), justamente algo pelo que tenho menos apreço é o que mais estou fazendo nesse momento. tenho mil atividades hoje (ontem também tive mil, anteontem foram umas duas mil e anteanteontem nem se fala!) e sabe o que? não sei como, não sei qual é a matemática que funciona aqui (sempre aprendi que dois corpos não ocupam o mesmo espaço e que pensamento só de pensar existe e que sentimento só de sentir existe; então, como posso ter tantos pensamentos e sentimentos assim..... coexistindo agora em mim?), mas nenhuma das quase cincomilatividadesdomomento estão preenchendo o espaço da espera atual. tempo passa. tempo passa. tempo, passa. tempo, passa! passa, tempo! passa, tempo! passa, tempo! passatempo! passatempo! pássatempo! pássatempo! pássatempo! jura? hoje ainda é quinta-feira?

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Inhotim

agora é quando

estou no agora
estou aqui e agora
eu e a parte de você
que ficou em mim
daquele dia que foi, digamos,
uma parte apenas de um dia;
na verdade foi um pouco
mais do que as vinteequatrohoras
e bastante menos do que as
incontáveis horas que queria.

estou aqui sentada
acomadada no estofado macio
incomodada com a distância daninha.
não apenas estou, mas sou
aquilo que unificamos aquele dia;
juntamos as partes, ainda não os trapos,
para formar um novo recomeço
o começo diário do também querer.

estar, ser, querer
estou aqui com você não estando
sou você um pouco em mim
quero outra vez aconchegar-me em ti
e conjugar o verbo amar.

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