quarta-feira, janeiro 28, 2009

Hoje chorei no ônibus indo pro trabalho. O motivo? O céu estava de duas cores: azul claro e salmão. Às 8h da manhã visualizar essa cena durante a semana, por incrível que pareça, já não era lugar comum há algumas quantas semanas. Sair de casa às 7:30h no inverno europeu sim, tem um quê de deprimente. Se vestir sem saber se o dia vai começar com céu azul ou cinza é como entrar no mar sem ter noção da temperatura da água; a surpresa é o único ponto seguro de acontecer.

Que interessante e, mais que nada, delicioso, ver a luz do dia mudar sua rotina, o sol se comportar de maneira diferente, as pessoas começarem a olhar pro céu com um sorriso Monalisa no rosto. Em mim então as mudanças são percebidas quase já nitidamente. Mais vontade de cantar e dançar, isso está claro. Querer ver cores, vestir cores, colocar cores nas unhas. Desejo por comidas mais leves, sucos. Incrível. Definitivamente somos animais naturais, que vivemos na e de acordo com a natureza.

quinta-feira, janeiro 15, 2009


Chega um ponto da vida, não que eu seja uma velha ou já tenha passado dos 50% da minha, que os olhos vêem de outra maneira as situações pelas quais passamos. As análises são mais freqüentes, os históricos pesam mais, a espontaneidade perde espaço para o medo. São bobos os que se deixam cair nos mesmos erros já vividos, que continuam seguindo seus impulsos uma vez já tendo percebido a dor das quedas. Você acredita mesmo nessas duas últimas frases escritas? Eu, sinceramente, apesar de constatar que é o que acontece na minha e nas outras vidas, continuo sendo romântica e não acreditando que esteja fadada à razão. Era (e continua sendo quando tenho “deslizes” de emoção) tão gostoso olhar para o céu e vê-lo só azul sem enxergar as nuvens cinzas que estavam ali também; estar com um homem e enxerga-lo como o mais belo de todos os existentes; escrever poesias e mais poesias para o sexo oposto, para o sol, para a vida. Algumas das atitudes que me preenchiam continuam existindo como verbo presente do indicativo, o que já está arraigado e ninguém me tira. São os olhos fechados ouvindo uma boa música, o dançar com o ritmo que entra pela alma, o abraçar forte os amigos queridos, o dizer te amo a quem realmente o coração palpita, o usar as cores a meu favor, o prazer de conhecer novas pessoas, o surpreender-me com as novidades da vida. Porém, toda a primeira parte dessa conversa, que foi se perdendo um pouco com o passar das frustrações, cada dia parece ganhar mais importância dentro do gráfico de pizza da minha vida. Os administradores me entenderão.

Aproveito para falar um pouco disso, de como a administração entrou na minha. Sabe, é algo que parece ser muito positivo mas, como tudo nessa grande vida, tem fortemente seu lado negativo. Desde quando resolvi abandonar a vida de artística-filósofa-designer e entrar no mundo do business minha vida mudou bastante. Não digo em relação à rotina, porque essa acaba sempre existindo e se tornando cada dia parecida. Ainda que fosse freelancer teria a rotina da não-rotina o que, por si só, já torna o dia-a-dia suficientemente previsível. A administração mudou minha maneira de enxergar tudo, entrou de maneira intrometida em todas os meandros da minha vida. Não se satisfez em ficar apenas na área profissional, colocou o bedelho na forma de pensar os sonhos, as relações amorosas, a família, até na forma de escrever. Nada parece ser simplesmente um pensamento ou um desejo; agora parece sempre vir atrelado de um porquê (justificativa), estar seguindo um caminho lógico (direção a um objetivo), ter pessoas envolvidas (players), ter pontos positivos e negativos (análise SWOT), etc etc etc. Ou seja, a maneira de ver a vida ficou um pouco “aburrida”, como diríamos por aqui. Digo um pouco porque é óbvio que os livros e a teoria não são tudo, as pessoas é que fazem a diferença (hehehehe um conceito da “nova administração” – pelo menos ela se renova né, não está fadada a além de chata ser monótona).

Bom, falando assim da administração, parece até que estou de mal com ela ou com a vida. Mas a questão não é bem essa, é um pouco mais profunda. É a eterna quantidade de pensamentos que me assola e que me deixa uma interrogação na testa: porque eu, que sempre fui tão romântica e poética, agora sou tão objetiva e administrativa? E, claro, como não podia deixar de ser e por ser muito raro que é uma pergunta chegue sozinha – geralmente vem com pelo menos mais duas ou três acompanhantes – outras se alojam: é uma questão de envelhecimento? isso aconteceu por desilusões amorosas? pode ser mudado? deve ser mudado? como ter o equilíbrio emoção-razão nas várias atitudes perante a vida?

Pois então, é por aqui que termino esse texto um pouco mulher-mal-amada-que-reclama-da-vida e digo que ao mesmo tempo que tudo isso passa pela mente.... estou com uma energia pulsando dentro de mim que me está dando vontade de correr e pular por aí... tirar as pessoas dos seus lugares e rodar com elas, cortar papel e jogar pro alto, jogar bolinha nos outros que estão aqui nas outras mesas (sim, estou no trabalho mas todo esse pensamento e a falta de algo objetivo que fazer me fizeram entranhar-me aqui e não conseguir parar até ter todas as palavras estivessem devidamente digitadas). É por aqui pela 736ª palavra que termino e digo: que vontade de subir na mesa e dançar “desce-desce”!