sexta-feira, abril 30, 2010



quando me mudei pensei pouco no que mudaria, me preocupei muito com como seria a mudança. organizei armário antigo, caixas velhas, frete contratado, despedida do cachorro, ligação pra sindíca nova, paredes pintadas, colchão alocado. organizei tudo e quis me organizar também. mas organizar a si mesmo seria, aí sim, não ter surpresa alguma. pelo menos alguma parte dessa mudança toda tinha que ser surpreendente, não estabelecida, desconhecida.


me enganei outra vez (na maioria me engano, a doce ilusão do ego me faz crer que sempre já pressentia, sabia de alguma maneira). toda aquela organização inicial serviu pra muito pouco. ou melhor, serviu pra muito, tudo deu certo - os armários esvaziaram, as caixas encheram, o frete levou, o cachorro abanou, a síndica assentiu, paredes brancas limpas, colchão macio. a enganação foi achar que organizar organizaria.


pois é, estranho, mas de tanto que tudo estava nos seus devidos lugares o desorganizado apareceu ainda mais. sabe quando tudo está um brinco e você só consegue enxergar aquele bolinho de cabelo no canto do chão? seu olho, magicamente, só vê isso? pois bem, dentro de tanta organização só via a mim mesma, a parte mais desorganizada da história toda. antes fosse menos planejada. assim, eu ia me misturar naquelas caixas bagunçadas e ainda corria o bom risco de ser levada pelo frete pra algum lugar surpreendente. imagina parar no mundo de alice, no país das maravilhas?


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