sábado, setembro 26, 2009



Maria mijona

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Maria estava conectada a tudo. Tinha todas as formas possíveis e imagináveis de falar com os outros via telefones e computadores. Estava mais lá que cá. Vivia todo o tempo vivendo o além do seu alcance, físico mesmo. Eram mensagens instantâneas e nem tão instantâneas assim; frases curtas ou longas para que vissem o que estava fazendo ou pretendia fazer; textos que expunham a realidade do mundo. Estava tão conectada a tudo. Era tão integrada na tecnologia. Inclusive era reconhecida por sua capacidade de estar em tudo ao mesmo tempo.

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Claro que, de tanto estar em tudo, Maria esqueceu do que era estar em si mesma. Quando um dia ficou sem seus aparelhos todos, conexão com seu mundo, seu mundo caiu. Percebeu quando, sentada no banco de trás de um táxi silencioso, o rádio foi ligado. Era uma daquelas rádios que tocam música da década de 90, geralmente as mais melancólicas possíveis. Que de tão melancólicas te obrigam a entrar em si mesmo para não precisar ouvir. Quando chegou dentro, se perdeu. Não tinha referências. Pediu pro taxista parar, saiu correndo e beijou o primeiro homem que passou. Agora tinha com o que se ocupar.

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